Fernando Silva - A minha História - Um (outro) PA de 1963

01-02-2011 15:56

 

A POLICIA AÉREA

 

Estava-mos no ano de 1962, quando tive que me deslocar á Estrela, apanhando o carro eléctrico, e sentei-me no banco lateral.

Quando reparei num anúncio que estava colocado em frente numa das partes, que dizia o seguinte (FORÇA AÉREA) precisa de ti! Alista-te: Mecânicos Material Aéreo, Mecânico de Armamento, Electricistas e outros.

Fui à morada que indicava o anúncio. Cheguei ao balcão e informai-me do que era necessário para entrar para a Força Aérea, entregaram-me um papel com todas as indicações, do que precisava, ainda hoje me lembro, B.I., certidão de nascimento, de habilitações e outros documentos, e lá fui tratar de tudo, onde entreguei no mesmo sítio, até que em Novembro recebi uma carta para me apresentar na Esquadro 10 em Monsanto, para a inspecção.

Fui no dia marcado para Monsanto fazer a dita inspecção. Onde estive todo o dia por lá até que fui chamado para fazer os testes médicos, assim como os restantes.

Os que ficaram aprovados para o serviço militar seguiam: Quem não ficou voltava para casa, por fim chamaram alguns com pequenos problemas de saúde, fui informado pelo 1º Sargento se quisesse ficar na Força Aérea tinha que submeter a uma pequena cirurgia, isto perto do Natal de 62.

Voltei ao médico para ver se estava tudo bem comigo, fui informado que sim, estava tudo bem e que aguardasse pela carta com uma guia de marcha para eu me apresentar na minha unidade.

Assim foi, nos primeiros dias de Janeiro, quando cheguei a casa tinha recebido um envelope azul vindo da Força Aérea, com a respectiva guia cardada para o dia 17/Jan. /63, estar na Base Aérea em Tancos com as iniciais (B.A.3).

Então lá apanhei o comboio com destino ao Entroncamento: saindo de Lisboa às 08h00 para chegar ao destino por volta das 12h00, seguindo noutro para a estação de Vila N. Barquinha, encontrei vários colegas que seguiam no mesmo comboio, e para o mesmo destino (B.A. 3).

Fui apresentar-me ao oficial de dia para entregar a guia de marcha, e segui para a camarata arrumar as minhas coisas, depois foi buscar o fardamento e a roupa da cama.

A 18/Jan. /63, pelas 08h00 fez-se a primeira formatura, onde se fez a chamada por nomes e o respectivo número, até que me deram o número 510/63, e foi colocado no nono Plutão.

A partir daí começo a vida militar na Força Aérea, fiz durante três meses a recruta, a conhecer as respectivas de visas e postos, fizemos fogo com a espingarda Mauser 98k e a Walter, com um aspirante e dois cabos, até ao meio do mês de Maio.

Fiz o juramento de bandeira da primeira escola da E.I.P.A., era comandada pelo Tem. Mota Carmo.

Quinze dias depois voltamos para tirar a especialidade, que foi dada pelo 1º Sarg. /Paraquidista Oliveira, aprendemos todas as taticas de guerra de guerrilha.

E foi assim até ao fim do mês de Julho, se acabou a especialidade, já éramos todos Policias Aéreos.

Tinha chegado o fim do martírio que durante seis meses nos atormentou com tudo aquilo que fizemos, e ter orgulho numa BOINA AZUL, boina essa que hoje guardo com estimação, amor e carinho.

Férias quem bom! Voltamos a Tancos para sermos mobilizados, uns para as bases no continente, outros para Guine Bissau, Angola e outros para Moçambique, para várias unidades, onde fui destacado para Nampula base (A.B.5), terra que nem conhecia sequer no mapa quando estudava na escola.

Então fomos de Tancos a Alverca de avião (junkers JU 52) para ir ao depósito receber o fardamento e voltar a Tancos novamente.

Era o meu destino como Policia, vi embarcar colegas em barcos que pareciam mais sardinhas enlatadas do que tropas que iam para o Ultramar.

Enfim chegou o meu dia de embarcar, 25/Agt. /63 Às 12h30, na Gare Marítima de Alcântara, no belo paquete, Vera Cruz, navegando pelas águas do Atlântico até Luanda.

Para mim foi uma tormenta navegar nestas águas até Luanda, era cidade bonita, fui para a base esperando embarque para Moçambique.

Enquanto lá estive conheci a cidade, tinha-mos que fazer serviços, até que um dia parti no Noratlas com destino a cidade da Beira, (Base Aérea 10), onde fiquei vários dias para continuar até chegar ao meu destino.

A aproveitei para dar uma voltinha com colegas á cidade, como a bela praia que a Beira tinha e não só.

Chegou o dia, era o final de uma viagem que se tornou nos dias mais belos que eu tive na minha vida.

Dia 19/Set. /1963, partida para Nampula com saída às 13h00 e chegada às 17h00 do mesmo dia, tinha terminado a viagem a partir dai tudo se tornou diferente, tinha que ser um verdadeiro Policia Aérea, a onde me deram o nº 115/63, e assim quinze dias depois parti para Moeda para a minha primeira missão, estar dois meses, passei o meu primeiro Natal fora de todos e da família.

Era triste saber que estava tudo bem pela metrópole e nos por lá sem ter ninguém, mas fizemos a nossa árvore de Natal com o que avia, um ramo de uma árvore enfeitada com bolas de algodão preservativos a fazer de balões, almoçamos o que tínhamos, foi assim que se passou o Natal de 63, o primeiro Natal da P.A. em terras Africanas.

Dois meses e tantos dias voltamos para Nampula, tínhamos sido rendidos por outro Pelotão que iria ficar mais dois meses, era assim sempre.

Serviço á porta de armas, comando, rondas pela cidade, no cinema, durante dias e dias, noites e noites sempre a mesma coisa, fiz guarda de honra da visita de Nossa Senhora de Fátima em 13/Out. /64, era a vida de um P.A., durante o tempo estivemos lá.

Quando estava de folga ia até ao cinema, piscina, café, e muitas das vezes ia até ao bairro dos africanos onde ficava muitas noites.

Até que um belo dia foi o fim de tudo: para mim e para mais seis companheiros, alem dos feridos, quando íamos numa viatura da Força Aérea, esta ao passar pelo trilho na estrada, não sei como e porque, só sei que a camioneta se voltou num estrondo muito grande, só me lembro quando fui transportado para o hospital militar em estado muito grave.

Alguns dias depois do que aconteceu, vim a saber que tinham morrido colegas da P.A., fiquei internado durante algum tempo, e sai com um colete de gesso, que andei durante meses, mas graças a Deus que recuperei.

Entretanto tivemos a visita do Presidente da Republica que na altura era (Américo Tomas) que foi visitar algumas unidades tanto da Força Aérea com do Exercito, mas nada podia fazer pois estava doente, foi a coisa que mais me custou, não poder fazer o desfile com a nossa boina azul e de camuflado, mas o que é que eu podia fazer, nada.

Vim para Lourenço Marques para o hospital para ver o que se podia fazer, pois o mal era tudo na coluna vertebral.

Foi informado que teria que vir para o continente, para o Hospital Militar da Estrela, e assim foi.

No dia 19/Jan. /65 Pelas 09h00 apanhei o Avião (DC6) com destino ao continente saindo de Lourenço Marques e fazendo escala por Luanda por volta 22h00,saindo do mesmo local às 00h30 com destino á Guine Bissau, que se chegou por volta das 06h00, pouco tempo estive na quela terra, foi o tempo de abastecer o avião e seguir com destino ao continente que teve a chegada às 17h30 na Portela (AT1).

Foi maravilhoso ter pisado novamente a minha terra, pois á bastante tempo que não a via.

Dirigi-me ao Hospital da Estrela par ser visto pelos médicos, onde foi transferido para o Hospital da Parede, a título particular para fazer os respectivos tratamentos.

Depois disto tudo foi transferido para Tancos (BA3) onde foi colocado até ter baixa do serviço.

Em 71 a minha situação foi de passar a reforma, que para mim foi o maior desgosto da minha vida, ter que perder o que eu mais amava (a minha boina Azul), a partir dai nunca mais a ponha na minha cabeça.

Hoje guardo-a religiosamente, esta velhinha, mas continua a ter a sua cor Azul, tem uma bonita idade 47 anos (63 a 2010).

Sinto um orgulho quando vou a qualquer convívio, juntamente com velhos amigos, e a levo comigo posta na cabeça, sinto que voltei aos velhos tempos, faz recordar o meu tempo de tropa.

Hoje sinto um orgulho muito grande quando vejo um desfile onde a BOINA AZUL passa na cabeça de todos os PAs

 

Bem haja e uma saudação a todos os P.A.

Aqui fica uma memória de um PA, que apesar de reformado continua a amar a sua BOINA AZUL.

 

Fernando Silva.

números 510/63 (B.A.3) 115/63 (A.B.5) 012246 (C.R.M) 

 

 

 

 

 

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