A REVOLTA DA PA - AM51/Mueda 1970

30-04-2014 14:36

A REVOLTA DA P.A

Mueda, A.M.51. Estamos em junho do ano 1970, apesar de solarengo o dia nasceu fresco e agradável. A pista e infraestruturas de apoio, tinham sido construídas, estrategicamente, num planalto a 940 metros de altitude. Com alguns morteiros 81, uma metralhadora improvisada num posto junto á pista e a G3 que a cada um foi atribuído, os 64 Homens da Policia Aérea faziam diariamente a segurança da base.

Naquele dia, desde muito cedo que se notava um movimento anormal. Hangares a serem despejados de todo o material terrestre e a ser substituído por mesas e cadeiras, denunciava que algo diferente iria acontecer. Numa azáfama constante, o dia decorreu em grande alvoroço. A tarde já ia avançada quando começaram a chegar os convidados para a festa do São João.

Oficiais e sargentos de outros quartéis e todos os elementos da nossa base, deram início a uma festa que prometia ser de arromba, mas, cometeram um grave erro, ou melhor, uma injustiça; esqueceram-se dos 64 homens da P.A que todas as noites faziam o reforço para eles dormirem descansados.

A raiva foi corroendo o nosso bom senso e á boca fechada começou a falar-se em revolta. O primeiro reforço começava às 17 horas e acabava às 19, ainda na expectativa de virmos a ser convidados depois de o ter feito, continuávamos inativos mas, quando nada aconteceu, ficou combinado que a segunda rendição deixaria passar 10 minutos e os polícias de serviço começariam a disparar.

É preciso não esquecer que estamos em Mueda, zona considerada 100% operacional. Ao primeiro som de uma detonação todos eram obrigados a ir para a segurança dos seus abrigos, à exceção dos 64 Policias que pegavam nas armas e corriam pela vala e ocupar os seus postos de combate.

A festa estava no auge quando pelas 21 horas e 10 minutos o soldado do posto nº 8 deu a primeira rajada, logo a seguir todos os outros postos de vigia disparam ininterruptamente, os restantes, entravam na vala e dos seus postos disparavam também. Eu, que era apontador do morteiro Nº6? (aquele que varria a zona do fim da pista) lembro-me que comecei a lançar granadas até me aperceber que os quartéis em volta começaram também a disparar, o obus do exército varria a zona do vale de Miteda, o destacamento das águas dispara também e os senhores oficiais e sargentos, numa correria alucinante, saíam, aterrorizados, pela porta de armas. Os nossos, esses, rastejavam colados ao chão, até aos abrigos.

Nos dias que se seguiram, sofremos pressões brutais. Disciplina rigorosa com carecada coletiva, formaturas para tudo,a capinar a zona circundante e a desassorear a vala, fomos , constantemente, ameaçados de prisão. Á força, queriam que denunciássemos os autores da ideia. Eu tive o privilégio de pertencer a este grupo de verdadeiros camaradas. Todos unidos, mantivemos sempre o mesmo discurso: “Nem foi este, nem aquele, fomos todos”.

Muitos anos passaram e tenho pena de não me lembrar do nome de alguns deles, mas a sua atitude marcou para sempre o meu sentido de vida,

Obrigados camaradas, por esta lição de justiça, retidão e lealdade.

“EX MERO MOTU”

enviado para o email pa.boinasazuis@gmail.com por LUIS RODRIGUES

 

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